O ChatGPT vai substituir os produtores de conteúdo?

Atualizado em

Avatar de Leandro Abreu
chatgpt e outros vão acabar com os criadores de conteúdo

Ferramentas que utilizam recursos de Inteligência Artificial para elaborar frases e textos originais, como ChatGPT, retomaram a discussão sobre as possibilidades da automação da produção de conteúdo para a web. Mas será que suas façanhas já podem ser consideradas uma ameaça para redatores, copywriters, UX writers, social media e até escritores?

Quem são os novos “concorrentes” dos produtores de conteúdo?

Confesso que, à princípio, não dei muita importância para o assunto, mesmo com a cascata de posts e prints que surgiram no LinkedIn nos últimos meses. Tenho em mente que, na maioria das vezes, a relevância de uma suposta “grande novidade” é inversamente proporcional ao hype gerado nas redes sociais.

Pesquisei mais sobre o tema recentemente, quando me foi solicitado escrever um artigo para o blog da Rock Content, mais especificamente sobre o uso do ChatGPT para SEO. Isso me levou a fazer alguns testes com a ferramenta e conversar com alguns colegas sobre o assunto.

O interessante é que, embora quase todos os holofotes estejam apontados para o ChatGPT ― desenvolvido pela Open AI, organização que é um antigo projeto do Elon Musk ―, existem outras ferramentas com propostas muitas mais “ameaçadoras”, digamos assim.

O melhor exemplo é a Notion AI, que está sendo desenvolvida especificamente para gerar conteúdos para internet de forma autônoma, como blog posts, e-mails de venda, postagens para redes sociais, press release, entre vários outros.

Mas, afinal, o que esses serviços são capazes de fazer?

O que o ChatGPT é realmente capaz de fazer?

O funcionamento da Notion AI é semelhante ao do ChatGPT. A diferença é que o último foi programado para gerar uma experiência de conversação.

Dentro da ferramenta, o que você precisa fazer é apenas solicitar um tipo de conteúdo e um tema, com alguma informação complementar, se desejar. Em instantes, um texto inédito é gerado diante dos seus olhos.

Se você leu meu artigo na Rock, deve ter visto o teste que fiz com o ChatGPT para uma rotina básica de SEO. O que mais nos interessa, porém, são os textos e as copy’s produzidas por ele. Veja.

Comando: Crie um artigo para blog sobre o tema Inteligência Artificial, destacando a possibilidade da tecnologia substituir tarefas realizadas por seres humanos.

Resposta do ChatGPT (sem edições):

Inteligência artificial (IA) é a capacidade de um computador ou sistema de realizar tarefas que exigem inteligência humana, como reconhecimento de padrões, tomada de decisão e aprendizado. A IA tem sido aplicada em uma ampla variedade de campos, como reconhecimento de voz, tradução de idiomas, detecção de fraudes e até mesmo diagnóstico médico.

Como a IA se torna cada vez mais avançada, há uma crescente preocupação de que a tecnologia possa substituir tarefas realizadas por seres humanos. Isso tem sido um tema de debate há décadas, mas a velocidade acelerada da tecnologia nos últimos anos tem intensificado essas preocupações.

Um dos principais argumentos a favor da IA substituindo tarefas humanas é que ela pode realizar muitas tarefas de maneira mais rápida, precisa e barata do que os seres humanos. Isso pode ser especialmente verdadeiro em tarefas que são repetitivas ou perigosas, onde a IA pode tomar decisões de maneira mais rápida e precisa do que os seres humanos. Além disso, a IA pode trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem precisar de descanso ou férias.

No entanto, há também argumentos válidos contra a IA substituindo tarefas humanas. Muitas pessoas acreditam que a IA não pode substituir completamente a criatividade, a empatia e a intuição humanas. Além disso, a substituição de tarefas humanas pela IA pode levar ao desemprego em massa e a uma mudança radical na estrutura do mercado de trabalho.

Em resumo, a IA é uma tecnologia incrível que pode realizar muitas tarefas de maneira mais rápida e precisa do que os seres humanos. No entanto, é importante considerar cuidadosamente os potenciais impactos da IA no trabalho humano e garantir que a tecnologia seja usada de maneira responsável e ética.

Não é o melhor texto do mundo e ele não está formatado, como você vê. Há muitas repetições, a linguagem é muito polida e as informações apresentadas são vagas.

Entretanto, se fizer uma busca no Google sobre o tema, tenho certeza que encontrará muitos artigos equivalentes. Não há dúvidas de que o conteúdo é elegível para muitos blogs na internet.

Agora vamos testar uma copy.

Comando: Crie uma copy para e-book sobre SEO que aborda estratégias para sites que tratam de conteúdos sensíveis, como portais de saúde e finanças. O e-book custará R$47.

Resposta do ChatGPT (sem edições):

Otimizar o seu site para os mecanismos de busca pode ser um desafio, especialmente se você trata de conteúdos sensíveis, como saúde ou finanças. É importante ter uma estratégia sólida de SEO para garantir que seu site alcance as primeiras posições nos resultados de busca e atraia os visitantes certos.

O nosso ebook de SEO avançado é o guia definitivo para qualquer site que trata de conteúdos sensíveis. Aprenda técnicas avançadas de SEO para garantir que seu site seja encontrado pelos visitantes certos, sem comprometer a segurança ou privacidade de seus usuários.

Com o nosso ebook, você aprenderá:

  • Como otimizar suas páginas de conteúdo para os mecanismos de busca, usando palavras-chave e técnicas de otimização de conteúdo
  • Como construir uma estratégia de link building eficaz, sem comprometer a privacidade de seus usuários
  • Como medir e acompanhar o desempenho de seu site com ferramentas de análise de SEO
  • E muito mais!

Por apenas R$47, o nosso ebook de SEO avançado é a ferramenta ideal para qualquer site que trata de conteúdos sensíveis e quer obter resultados de busca de primeira classe. Compre agora e comece a otimizar o seu site hoje mesmo!

Mais uma vez, o conteúdo não é lá essas coisas, mas, convenhamos, que está bem perto da qualidade de muita copy vendida por aí. O interessante é que o chat gerou até alguns tópicos sobre o material, baseando-se somente no tema.

Embora o texto original não seja tão bom, bastam alguns ajustes e complementações para deixá-lo razoável. Podemos dizer que o ChatGPT pode agilizar bastante a produção, principalmente na hora do bloqueio criativo.

Conteúdos gerados por Inteligência Artificial podem rankear no Google?

Não é a primeira vez que geradores de texto aparecem no mercado. Na verdade, já existem vários, dos mais sofisticados às típicas “gambiarras” digitais, que usam artimanhas para criar artigos em instantes ― como copiar trechos de resultados do Google e reestruturar suas frases.

Na maioria dos casos, porém, esses conteúdos são detectáveis e acabam se tornando inúteis em termos de marketing, pois não conseguem rankear.

Esse talvez seja um dos pontos que deram destaque ao ChatGPT: a ferramenta cria textos realmente originais em praticamente todas as interações. Mas será que sua IA é, realmente, indetectável nos textos?

O Google sempre foi bastante diplomático sobre o tema. Em seus comunicados oficiais, a empresa deixa claro que seus algorítimos dão preferência a textos escritos por pessoas e estão equipados com recursos que permitem detectar materiais autogerados.

Será mesmo?

Testando o ChatGPT para rankear no Google

Quis testar o desempenho de um artigo gerado pelo ChatGPT usando um post complementar do meu blog. Meu objetivo foi verificar se o Google notaria alguma mudança na estrutura do texto capaz de afetá-lo no rankeamento ou até na sua indexação.

O post é este aqui: Digital ou virtual? Do que, realmente, estamos falando?

Ele rankea em primeiro lugar para a palavra chave “digital virtual” e suas variação há algum tempo e ocupa um Featured Snippet. Gerei um texto para cada tópico do artigo no ChatGPT, atualizei o post e solicitei uma nova leitura da URL pelo Search Console.

Mesmo depois de vários dias, o resultado se manteve o mesmo. O post continua em primeiro lugar e o Google, inclusive, atualizou o Featured Snippet com o texto original gerado pela Inteligência Artificial do ChatGPT.

Você pode conferir por conta própria fazendo alguma busca semelhante por texto ou voz, como “qual a diferença entre digital ou virtual”.

É claro que muitas coisas precisam ser levadas em consideração:

  • O título, os intertítulos e toda a formatação para SEO foram mantidas. Pretendo fazer um novo teste com títulos gerados pelo ChatGPT, mas, por enquanto, devo aguardar algumas semanas para ver se o texto se mantém em destaque.
  • Outro ponto importante é que os outros textos do blog foram produzidos por mim, um ser humano. Por isso, estou criando alguns sites completos, com textos gerados automaticamente, para ver se consigo rankear, começando do zero. Postarei as atualizações aqui à medida que os resultados forem surgindo.

De maneira geral, pode-se dizer que, a princípio, é possível criar conteúdos em texto com o ChatGPT e usá-los para ser encontrado no Google, mesmo o buscador entendendo essa prática como blackhat.

E quanto a você, típico humano, como eu? É também capaz de detectar um texto gerado automaticamente?

Isso nos leva a uma discussão mais importante.

A carreira dos produtores de conteúdo está ameaçada?

Teoricamente, é possível que um dia os sistemas de Inteligência Artificial sejam capazes de criar conteúdos de altíssima qualidade, praticamente indistinguíveis dos criados por seres humanos. Mas nessa linha de pensamento abstrata, não estariam todas as profissões ameaçadas pela tecnologia?

Meme chatgpt - reagindo a posts

Eu diria que os produtores de conteúdo, especialmente os redatores, tem muito mais coisas para se preocupar no momento do que sistemas inteligentes roubando seus empregos e clientes.

De cabeça, posso citar: desvalorização profissional, pagamentos defasados (especialmente em agências e plataformas de freelancers), sobrecarga de trabalho (também em agências e plataformas de freelancers), baixa estruturação da área, entre vários outros problemas típicos.

A não ser que você trabalhe para um cliente ou patrão obcecado por textos vagos, repetitivos e tendenciosos, eu duvido muito que a sua carreira esteja ameaçada pela Inteligência Artificial (pelo menos, por enquanto).

A maioria das pessoas leigas ― e isso inclui blogueiros e jornalistas influentes ― têm uma visão superestimada da Inteligência Artificial, muito influenciada pelo cinema e por documentários sensacionalistas.

Eu não sou um especialista, mas não é preciso muito esforço para notar que as coisas não são tão alarmantes quanto dizem por aí.

A tecnologia avança a passos rápidos, claro, mas ainda não faz milagre. Nem o sistema mais avançado da Terra consegue se equiparar à complexidade de uma única célula humana. O que dizer, então, das mais de 80 bilhões que disparam no seu cérebro agora?

Outro ponto importante é que esse tipo de inovação não é nenhuma novidade. A precisão da escrita do ChatGPT surpreende, mas ainda deixa muito a desejar em termos de conteúdo e argumentação. Suas respostas só permitem conversas superficiais e excessivamente cordiais.

É como conversar com alguém chato, que finge saber de tudo, mas que não conhece nada em profundidade. Essa é uma boa definição, inclusive.

Por outro lado, uma das coisas que me fazem refletir é que a baixa qualidade dos textos do ChatGPT é frequentemente vista em artigos na internet escritos por pessoas reais.

Logo, acho que em vez de nos preocuparmos com a possibilidade de sermos substituídos por robôs virtuais, deveríamos nos preocupar mesmo é com a possibilidade de estarmos fazendo um trabalho tão medíocre quanto o deles.

E se você for o verdadeiro robô em questão?

Acredito que poucos criadores de conteúdo, não importa a área de atuação, têm a oportunidade de produzir com liberdade criativa e, principalmente, de prazo. Digo, produzir de forma natural, respeitando seu próprio estilo e seu próprio tempo.

Um dos textos mais lidos aqui do blog é o “Vale a pena ser redator freelancer?“, onde exponho todas as frustrações (e algumas alegrias) de ser um produtor de conteúdo, não apenas redatores, nos dias de hoje.

De fato, é difícil não adotar um modus operandi meio robótico quando é preciso produzir conteúdos em volume, estudar temas que não nos interessam e ainda lidar com prazos apertados constantemente.

Muitas vezes, a culpa é dos próprios clientes, que cobram templates previsíveis, ou dos algorítimos dos buscadores, que insistem em “valorizar” conteúdos com estruturas previsíveis.

Mal percebemos e estamos elaborando textos de forma automática, tal como o ChatGPT. Inclusive, é assim mesmo que seu chefe ou cliente pode te enxergar: um gerador automático de textos, imagens ou códigos ― expandindo nossa conversa para os programadores.

Isso nos leva ao chamado Slow Content, um movimento na internet em prol do “conteúdo lento”, ou seja, elaborado com foco na qualidade e na profundidade e não na velocidade e no volume.

Será mesmo que precisamos de blogs abarrotados de textos superficiais? Não seria melhor produzir menos, porém com mais qualidade e profundidade?

É claro que tudo depende da estratégia, compreendo. Muitas vezes o texto ou a imagem são apenas iscas, não têm importância real. Mas, nesse caso, será que você quer mesmo contribuir para projetos assim ou só faz por que não tem escolha? É importante saber que tipo de criador você é.

Como você vê, o futuro da internet e dos seus profissionais vai muito além das façanhas e ameaças geradas por ferramentas inteligentes, como o ChatGPT e a Notion AI. Além disso, não podemos nos esquecer que todas as profissões se transformam, e isso já era uma regra muito antes da chegada dos sistemas digitais.

Acredito que o que mais merece preocupação hoje é que as rotinas de trabalho (em todas as categorias) estão ficando cada vez menos humanizadas. Até então, parece que é muito mais vantajoso para as empresas transformar trabalhadores em robôs do que investir em robôs, de fato.

Recomendado para você:  Será que agora vai? O fim dos cookies de terceiros no Chrome e o que isso muda para você
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários