Estamos diante de uma bolha da IA? E se a tecnologia não for mesmo tudo isso, o que esperar do futuro?

Estudos de consultorias importantes somados a declarações cada vez mais abertas sobre a possibilidade de uma nova bolha de mercado colocaram a IA, de novo, no topo das manchetes, mas, dessa vez, de forma temerosa. E se estivermos mesmo diante de uma bolha? O que esperar do futuro? O que ficará em meio às especulações?…

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Mercado em queda - Bolha da IA

Estudos de consultorias importantes somados a declarações cada vez mais abertas sobre a possibilidade de uma nova bolha de mercado colocaram a IA, de novo, no topo das manchetes, mas, dessa vez, de forma temerosa. E se estivermos mesmo diante de uma bolha? O que esperar do futuro? O que ficará em meio às especulações? E o que tudo isso significa para o Brasil? Há oportunidades?

Recentemente, Sam Altman, CEO da OpenAI (empresa por trás do ChatGPT) afirmou categoricamente que “a IA está em uma bolha“, afirmação que contribuiu para uma queda nas ações de tecnologia em Wall Street e para o aumento da tensão mundial sobre o tema.

Além de Altman, Gary Bolles, um dos especialistas mais proeminentes da área também afirmou em entrevista à Forbes que acredita na possibilidade de bolha - ou seja, as expectativas do mercado estão incoerentes com o que a tecnologia realmente deve entregar, o que, uma vez comprovado, pode promover uma demandada de investidores e, consequentemente, a queda de inúmeras empresas em todo o mundo.

As alegações surgem em meio à divulgação de vários estudos que corroboram com o pessimismo, como um recente levantamento do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que destacou que cerca de 95% das empresas que investem em IA ainda não viram retorno sobre os investimentos.

Os rumores não são de hoje. No ano passado, o Banco Central Europeu (ECB) já havia alertado que empresas associadas à ferramentas de Inteligência Artificial estavam tomando posições muito grandes no mercado sem apresentar dados consistentes para tal.

Em meio às notícias, como se vê, é fácil encontrar sinais de bolha, difícil é dizer que não era óbvio. Grandes mercados de tecnologia sempre foram particularmente sensíveis a “surtos coletivos” patrocinados por campanhas de marketing insanas — e vale destacar que essa campanhas não são criadas apenas para captar recursos para as empresas, mas também para ajudar alguns investidores a fazerem fortunas com especulação, claro.

Para nós, meros profissionais de marketing e tecnologia, fica o questionamento: e daí?

Se a febre da IA for mesmo uma bolha e estivermos nos aproximando de uma queda abrupta do mercado, como isso nos afetará? Como ficam as promessas (boas e ruins)? Como o Brasil fica nesse rolo? Quem perde e quem ganha com isso?

Andei lendo um bocado a respeito — e imagino que você também — e vou tentar responder essas perguntas com o meu modesto repertório. Continue a leitura e veja se concorda comigo.

Tudo agora é IA

Em minha área de atuação, o SEO (Search Engine Optimization) — e bem provável que na sua também —, chega a ser cômico a quantidade de e-mails enviados divulgando novas ferramentas revolucionárias junto ao desespero quase escancarado dos profissionais de marketing em trazer novos termos chiques e argumentos para provar que seus serviços continuarão relevantes.

A Inteligência Artificial está na moda, e quem não adota um mero chatbot que seja em sua plataforma fica para trás. Ou é isso que as empresas pensam. Alguma semelhança com a febre dos PontoCom, dos aplicativos ou dos NFTs?

São tantas ferramentas e upgrades lançados ao mesmo tempo que o único sentimento cabível aos usuários é a saturação. Sim! Ninguém aguenta mais topar com o ChatGPT camuflado em chats intrusivos e assistentes virtuais moderninhos em todos os lugares. Boa parte do público desabilita esses recursos ou simplesmente os ignora.

Não é a toa que o recente discurso da Microsoft — que diz que no futuro breve as interfaces por voz substituirão a navegação por teclado e mouse — virou chacota instantaneamente.

Todas as empresas agora querem ser “inteligentes”, incluindo aquelas que sabem que o termo Inteligência Artificial é puro marketing. Não é preciso grande esforço cognitivo para perceber que as IAs não são nada inteligentes — o que elas sabem mesmo é enganar o público muito bem, mesmo cometendo gafes constantemente.

Ainda assim, o peso da palavra inteligência é gigantesco no mercado e influencia não somente as campanhas publicitárias das marcas, como o preço de ações de companhias e fundos de investimento do mundo inteiro.

Como tenho mais de 40 anos de experiência no Vale do Silício, já vi como utilizam palavras para influenciar as pessoas a sentirem que estão perdendo algo. É uma estratégia de marketing. Com a Inteligência Artificial não é diferente, o termo é mais uma construção mercadológica.” — Gary Bolles para a Forbes.

Déjà-vu: já não vimos isso antes?

Do surto das empresas PontoCom ao efêmero metaverso, a história parece se repetir como um teatro muito bem ensaiado.

Se você tem mais de 30 anos, vai se lembrar do começo dos anos 2000, quando todo mundo tinha um site, todo mundo ia “revolucionar o mercado e ficar bilionário”. No ano seguinte, eis o estouro na Nasdaq com queda de 75% no valor das ações no índice e mais de 500 empresas quebradas (sem contar as perdas indiretas).

Em 2007, com o lançamento do iPhone, veio a febre dos aplicativos. Cada dia uma nova startup com uma solução mobile que prometia simplificar alguma tarefa (estúpida). Nas mentes ingênuas, a fortuna fácil dependia apenas de uma “grande ideia de aplicativo” — se você é programador, já deve ter ouvido umas boas de amigos e parentes.

E, mais recentemente, e talvez o episódio mais cômico de todos, o aclamado metaverso. Em meio ao hype do assunto em 2021, quando usuários pagavam milhões de dólares para serem vizinhos virtuais do Snoop Dogg em plataformas abertas estilo Roblox, Zuckerberg mudou o nome da sua extraordinariamente bem sucedida corporação — no início deste ano (2025), a Meta já acumulava mais de 60 bilhões de prejuízo com seus ambiciosos projetos de realidade virtual.

Hoje, o surto da vez é a Inteligência Artificial. O assunto é destaque em todos os veículos de mídia, tem respaldo em filmes e séries famosas, e, como dito, está na pauta de empresas e governos do mundo inteiro. E o mesmo ciclo se observa: investimentos astronômicos, promessas romantizadas, projetos que dependem de infraestrutura cara sem entregas coerentes. Muita, muita expectativa, mas resultados ainda modestos, muito distantes da “revolução” anunciada.

Apesar do que se observa, porém, há quem mantenha a fé no mercado. E entre os que defendem a possibilidade de bolha, há também esperança, tendo em vista que os cenários catastróficos imaginados por gurus e grandes consultorias — em que parte das profissões deixaria de existir —, são também um baita de um exagero.

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A bolha da IA é real? Quem diz que sim e quem diz que não?

Afinal, há ou não há uma bolha de IA? Bem, existem bons argumentos de ambos os lados, e para deixar o texto o mais honesto possível reuni aqui os principais pontos que encontrei para cada opinião.

Quem diz que há sim uma bolha da IA?

O filósofo italiano pioneiro em Ética da Informação, Luciano Floridi, diz no paper Why the AI Hype is Another Tech Bubble, traça paralelos fortes entre o momento atual da IA e bolhas tecnológicas passadas (de uma forma mais aprofundada do que trouxe no tópico anterior). Ele destaca alguns pontos centrais: valorização exagerada de startups com pouca sustentação prática, padrões de “regulação deficiente” e expectativas éticas e sociais que ultrapassam o que a tecnologia de fato entrega hoje. (Fonte: SSRN)

Como havia citado na introdução, o Banco Central Europeu (ECB) também já emitiu alertas. No ano passado (2024), a instituição observou que ativos de empresas fortemente associadas à IA estão ocupando posições muito grandes no mercado. Em outras palavras, os preços refletem expectativas altíssimas e, se os resultados reais não acompanharem esse entusiasmo, um estouro abrupto pode acontecer. (Fonte: Reuters)

Do lado dos investidores, o fundo Elliott Management foi direto ao ponto: declarou que a Nvidia, por exemplo, está em uma “bolha”. Segundo eles, o hype elevou demais a empresa, enquanto muitas aplicações de IA ainda não estão prontas para adoção massiva ou simplesmente não são custo-eficientes. (Fonte: Financial Times)

E há ainda estudos empíricos. Um levantamento da METR, organização de pesquisa sem fins lucrativos que estuda as capacidades da IA, citado pela The Atlantic, mostrou que em tarefas de desenvolvimento de código, ferramentas de Inteligência Artificial reduziram a produtividade em comparação ao trabalho desenvolvido sem elas. Isso porque os profissionais gastam tempo revisando e corrigindo erros cometidos pelas IAs generativas ― revelando uma lacuna clara entre expectativa de produtividade e resultado prático.

E essas são apenas algumas fontes que corroboram com a possibilidade de uma bolha de mercado prestes a explodir.

Quem diz que não há bolha da IA?

Alguns artigos apontam que estamos diante de um boom, não de uma bolha. A própria Forbes publicou um texto com o título provocativo Is AI A Boom, Bubble, Or Con? Here’s What The Evidence Suggests. Nele, a análise conclui que, embora exista certo exagero no hype, os fundamentos da Inteligência Artificial são fortes o suficiente para sustentar mudanças duradouras. Em resumo: pode haver correções, mas não um colapso generalizado.

Há também especialistas que defendem que, em alguns casos, os investimentos são de fato sustentados. Eles argumentam que há receitas concretas, demanda crescente e inovação real acontecendo ― especialmente em áreas como infraestrutura e computação em nuvem. (Fonte: ForkLog)

Daniel Miessler, em seu artigo “No, AI Is Not a Bubble”, vai além. Ele afirma que muitos dos supostos sinais de bolha dependem de definições vagas, comparações exageradas com a bolha das PontoCom e expectativas pouco realistas. Daniel provoca: “qual parte da IA estaria realmente em bolha? As startups? As promessas de AGI? O hype midiático?” Para ele, quando se isola cada componente, fica claro que há exageros, mas não que todo o setor vá “implodir”. (Fonte: danielmiessler.com)

Alguns especialistas ficam em cima do muro, ponderando os dois lados. Sam Altman, da OpenAI, já declarou que enxerga “comportamentos de bolha” em alguns segmentos do mercado. Porém, ao mesmo tempo, ele sustenta que a IA é algo monumental para o longo prazo. Em outras palavras: há riscos, mas o potencial real compensa. (Fontes: Elephas, ForkLog)

Por fim, vários economistas têm chamado atenção para indicadores mais concretos: taxas de crescimento, investimentos pesados em infraestrutura e a demanda crescente por computação. Para eles, isso sugere que, em muitos casos, não estamos diante de hype vazio, mas sim de uma construção sólida e com substância. (Fonte: ForkLog)

Deixei links diretos para as principais fontes utilizadas no fim do texto.

O que esperar do futuro?

Bem, que há sim muito exagero na mídia, isso é inegável. A IA virou trend e a maioria dos que falam sobre isso na internet não fazem a menor ideia do que estão falando.

Se a bolha é real ou não, precisamos esperar para ver, porém, está claro que o mercado está passando por um amadurecimento natural, onde promessas vazias começam a perder espaço para dados sólidos e geralmente menos alarmantes.

Em todos os cenários possíveis, entretanto, o que também se repete é o fato de que há uma forte concentração de valor em poucas empresas gigantes, como Microsoft, OpenAI, Nvidia e Alphabet.

É bem provável que projetos menores que orbitam essas big techs percam força nos próximos anos, mesmo que não haja bolha. Por outro lado, caso ocorra uma queda abrupta no mercado, as empresas protagonistas têm recursos para absorver choques, o que pode moderar o impacto global.

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Agora sobre as distopias a respeito do futuro das profissões anunciadas por relatórios pra lá de sensacionalistas, o que se nota é o bom e velho exagero dramático e caça cliques de sempre.

O que cada vez mais empresas estão observando é que não é assim tão fácil substituir um ser humano por sistemas de IA generativa. A implementação e a manutenção da tecnologia, assim como a revisão e inevitável refação de tarefas, podem consumir muitos recursos, muitos vezes superando o que se investia em profissionais.

O que se espera de fato é que boa parte das profissões mudem, se aprimorem com as ferramentas de IA, o que já está acontecendo — eu sei que você está com o ChatGPT aberto em algum lugar.

Agora, a temerosa revolução anunciada por gurus, em que inúmeros postos de trabalho são varridos da noite para o dia, isso é algo que segue restrito às obras de ficção, por enquanto.

Como fica o Brasil nessa bagunça?

Se na Europa e nos EUA o risco é financeiro — startups infladas, valuations surreais, fundos despejando bilhões em algo que talvez não se sustente —, no Brasil o risco real mesmo é de dependência e frustração.

A maioria das empresas brasileiras não desenvolve IA do zero. Elas usam bases de fora, principalmente da Microsoft, Google e OpenAI. Isso nos torna reféns do mercado externo, afinal, as empresas brasileiras podem sofrer com variações no dólar e com as flutuações de preço dos fornecedores.

No momento, o principal ponto de atenção por aqui é o hype. Muitas empresas — parte delas pequenas — estão vendendo serviços com a promessa de “automatizar vendas”, “resolver o marketing” ou “atender clientes sem precisar de funcionários”, como se a IA fosse uma espécie de estagiário infalível. Entretanto, logo ficará claro que esse estágio erra frequentemente, e muitas vezes erra feio, e isso pode significar custos elevados e inesperados, além de frustrar os clientes, que perdem a fé na tecnologia.

Quanto ao mercado nacional como um todo, não há grandes projetos com projeção global que poderiam entrar na briga com os protagonistas atuais, embora grandes bancos e varejistas façam investimentos significativos no setor. O Brasil tem muito a amadurecer no assunto, embora conte com bons centros de ensino e pesquisa.

Além disso, falta também coragem para fazer apostas altas (como projetos de impacto global) com iniciativas locais, gerando bancos de dados que representem melhor a cultura e a língua brasileiras.

O que é unanimidade entre os especialistas é que o país tem uma vantagem competitiva relevante: a sua matriz energética renovável. Uma das principais pautas nas discussões sobre o futuro dos projetos de IA é justamente o impacto ambiental decorrente da demanda cada vez maior de energia elétrica, necessária para abastecer as gigantescas instalações de tecnologia que não param de crescer.

O lado bom é que estamos menos vulneráveis aos possíveis impactos que podem vir nos próximos anos, o que nos dá a oportunidade de observar erros e acertos nos mercado mais maduros. Se não copiarmos cegamente Europa ou EUA (como de costume), podemos criar leis equilibradas que atraiam investimento sem engessar a inovação, por exemplo.

Então, a IA vai ou não vai flopar?

Acredito que estamos vivendo sim uma “mini bolha” em alguns segmentos, especialmente nas promessas exageradas e no mercado financeiro global. Mas não acredito em apocalipse.

O que vai acontecer é o clássico “ajuste de expectativas”: empresas inúteis vão sumir, as sólidas (poucas) vão sobreviver, e nós, usuários, vamos aprender a usar IA sem esperar milagres.

No Brasil, o maior desafio atual é vencer a falsa crença de que a Inteligência Artificial pode resolver tudo sozinha. Não pode. E se não formos espertos o suficiente para criar soluções locais, vamos continuar pagando caro para importar hype.

E quanto à relevância do seu emprego ou do seu negócio, o que posso garantir é que algumas coisas vão mudar — na verdade, já devem estar mudando —, o que é bem diferente do que afirmar que a IA vai simplesmente substituir inúmeros postos de trabalho e demandas.

As profissões são sempre um retrato do seu tempo. Independentemente da IA, muitas áreas vão deixar de existir, assim como várias outras vão começar. Há, inclusive, a possibilidade da IA deixar sua área de atuação mais relevante ou prolongar sua relevância no mercado, indo contra as expectativas catastróficas que os portais adoram hypar.

Se há ou não há bolha de mercado, no fim o que nos resta é manter a vigilância, “um olho no peixe e outro no gato”, e seguirmos abertos às mudanças. Com ansiedade controlada, há ainda espaço para otimismo.

Principais fontes utilizadas:

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