Campanhas de marketing bem elaboradas, grandes eventos, histórias maravilhosas, transformações de vida, promessas milagrosas, críticas, fraudes, reclamações, polêmicas… Seja bem-vindo ao mundo dos gurus da internet!
Há uma preocupação por parte de críticos (entre os quais, encontram-se muitas vítimas) sobre o fervor criado em torno de personalidades influentes nas mídias sociais, as quais me refiro neste texto como “gurus da internet”.
Nos próximos parágrafos tento oferecer um breve esclarecimento sobre como tudo isso acontece, que tipos de inconsistências merecem a nossa atenção e porque nem todos os gurus da internet são enganadores, acredite ou não.
Navegue ou siga a leitura!
- O que é um guru da internet?
- O que os gurus da internet fazem?
- Basta acreditar. Será?
- O método é sempre 100% eficaz
- Guru na internet, faraó nos negócios
- Não é por dinheiro. Pode confiar
- As mentiras e o velho jogo sujo
- Os gurus que criticam gurus
- Dá pra confiar em alguém?
O que é um guru da internet?
Chamo de “guru da internet” os influenciadores que se autodenominam grandes autoridades de uma área — isso quando não se posicionam como a principal referência de um mercado ou nicho.
Esses ditos “especialistas” se beneficiam do Marketing Digital para fortalecer a sua presença online e atrair cada vez mais pessoas com promessas e produtos extravagantes.
O problema é que a falta de informações e de experiências sólidas pode tornar qualquer pessoa um alvo fácil de discursos ludibriosos.
Não há dúvidas de que a internet está repleta de profissionais espetaculares, mas o fato é que o amplo acesso a estratégias sofisticadas de divulgação favorece a promoção de pessoas nem sempre confiáveis.
O que os gurus da internet fazem?
Esta é uma ótima pergunta. Como esses influenciadores geralmente oferecem conteúdos muito superficiais, nunca está claro o que eles realmente vendem ou fazem — até o grande dia em que aparecem com algum evento ou conteúdo imperdível e, finalmente, revelam a que vieram.
Muitas vezes o “grande negócio” se resume a dar palestras e cursos caros sobre negócios, por exemplo, ou promover “transformações” que sabemos que nunca vingarão. O influenciador vende não só a suposta vida realizada, como também o estrelato.
A internet está inundada de artigos, vídeos e produtos que, no fundo, se resumem a orientações motivacionais genéricas. As “soluções” apresentadas costumam ser tão simplórias e generalistas que a própria heterogeneidade do público nos desperta desconfiança.
Como se os palcos das empresas e eventos de fomento não fossem suficientes, os gurus esbanjam perfis quentes nas redes sociais e produzem conteúdo sem parar. Abusam de técnicas de persuasão e promovem campanhas de marketing fantásticas convencendo mais e mais pessoas a darem ouvidos aos seus discursos.
Verdade seja dita: o marketing digital impulsionou muitos gurus da internet. Na web, eles encontraram um meio prático de escalar as suas ideias polêmicas e, claro, lucrar bastante!
Basta acreditar. Será?
Boa parte da informação distribuída pelos gurus da internet — englobando influenciadores dos mais distintos nichos — se limita a uma repetição constante de conhecimentos abstratos: frases de efeito, técnicas para isso ou para aquilo, como ser uma pessoa melhor no trabalho, em casa, na vida etc.
A questão é que a estratégia motivacional é universal. Funciona para todos, até para o profissional de uma área completamente desvinculada do tema central do conteúdo.
A carência de ensinamentos práticos e bem fundamentados é um claro indício de que o suposto orientador fala muito mais do que faz e entrega muito menos do que promete.
É fundamental analisar com cuidado o material fornecido por supostos experts, pois em meio à avalanche de conteúdos postados, muitas vezes não existe nada realmente relevante.
O método é sempre 100% eficaz
Vários códigos, segredos e fórmulas vendidas na internet apresentam conteúdos que estimulam demasiadamente a expectativa dos seus clientes, como se a solução oferecida pelo curso fosse uma espécie de passo a passo infalível.
O fato, porém, é que existem muitos fatores a se considerar e até nos melhores cenários existirão grandes chances de tudo dar errado.
É claro que não é legal generalizar. Se desqualificamos a universidade devido aos alunos que saem dali e não conseguem um bom emprego, por exemplo, ninguém se daria ao trabalho de prestar vestibular. Se os empresários se pautassem apenas nos inúmeros negócios que declaram falência todos os anos, ninguém mais empreenderia.
A verdade, no entanto, é que não há como garantir que seu novo negócio dará certo, que seu relacionamento dará certo, nem que seu próximo fim de semana dará certo.
Qualquer escolha ou investimento implica riscos, muitos riscos. Portanto, muito cuidado com as supostas garantias prometidas por ai.
Guru na internet, faraó nos negócios
Pirâmides financeiras são uma prática ilegal e muitas empresas brasileiras já foram investigas e condenadas por atuações do gênero. Esse tipo de esquema manchou bastante a reputação do marketing multinível que (discussões à parte) é uma atividade legalizada.
A diferença entre a pirâmide e o marketing multinível é que o último deve ser sustentável. Na pirâmide, o recrutamento de novos representantes é intenso e os produtos e serviços oferecidos não costumam ter valor significativo no faturamento. Às vezes nem sequer existem!
Quando novos recrutamentos se mostram inviáveis, o sistema trava. Eis, então, que a base da pirâmide sofre altos prejuízos, enquanto o topo celebra lucros estratosféricos.
Acusar gurus da internet por práticas dessa natureza é muito grave. O que ocorre muitas vezes não é exatamente uma pirâmide, mas um sistema de vendas com baixíssima sustentabilidade.
Muitos cursos, por exemplo, pecam ao ensinar seus alunos a venderem somente produtos da mesma categoria, se não (o que é bem comum) o mesmo produto! Dessa forma, o aluno é obrigado a atuar em uma espécie de “marketing multinível” oferecido pelo produtor.
A internet está pulverizada de ditos “especialistas” oferecendo produtos de terceiros, uma consequência direta desse problema. Pessoas com pouquíssima (ou nenhuma) experiência tentando criar autoridade sem qualquer base sólida, simplesmente reproduzindo os discursos do seu instrutor.
Não é por dinheiro. Pode confiar
O marketing explora diversas ferramentas de persuasão e o uso dessas técnicas é comprovadamente eficaz na obtenção de público e clientes, principalmente na internet.
A questão é que não há uma divisão clara entre a persuasão comercial e a manipulação propriamente dita. Enquanto essa discussão divide a opinião dos acadêmicos, empresas e profissionais de Marketing Digital usam e abusam de metodologias persuasivas, do primeiro contato com o público até a oferta.
A princípio, não há nenhum problema em se valer da persuasão, desde que o material apresentado não seja capaz de “desarmar” o cliente para reclamações e denúncias necessárias.
O problema, como já dito, é que frequentemente cria-se um valor tão grande na oferta que o produto pode ser entendido como algo “infalível”. Dessa forma, o cliente é sempre visto como o culpado diante de resultados inesperados, o que nem sempre é verdade.
De maneira semelhante, o vínculo gerado entre cliente e influenciador por meio do contato constante pode acabar gerando um respeito acima do desejável pela autoridade em questão — que nem sempre é uma autoridade, diga-se de passagem.
O interessado precisa estar ciente de que tudo faz parte do trabalho do guru, que nada mais é do que um vendedor.
Isso não quer dizer que um influenciador está proibido de criar laços com o cliente ou está sempre escondendo más intenções. Só não devemos nos esquecer que ele chega até o seu público por alguma razão comercial, mesmo quando suas propostas são sinceras.
As mentiras e o velho jogo sujo
Denúncias mais graves também são encontradas em blogs e redes sociais. A prova social, por exemplo, é um artificio eficaz para apresentar o ponto de vista dos clientes sobre uma marca ou produto.
Sabe quando você decide comprar uma coisa, mas antes decide verificar a opinião de quem já comprou para se certificar que está fazendo um bom negócio? Essas avaliações são um dos tipos mais comuns de prova social, seguidas pelos famosos “cases de sucesso”.
Os feedbacks exibidos nas páginas de venda de muitos gurus, porém, esbanjam uma série de inconsistências.
A primeira delas (básica) é que o vendedor expõe apenas as histórias de pessoas que se deram muito bem com o produto. Denúncias ou comentários negativos são rejeitados ou imediatamente apagados. Apenas alguns são mantidos para conferir uma sensação de transparência.
E o problema fica pior quando se investiga a autenticidade dessas histórias. Muitos depoimentos são produzidos por vendedores comissionados ou por parceiros comerciais. Existem pessoas que dão testemunhos em troca do produto! Ou seja, elogiam o material antes de sequer conhecê-lo.
E, claro. Não podemos nos esquecer dos clássicos bots e perfis fake. Apesar de manjados, ainda enganam muita gente.
Se pesquisar um pouco mais, encontrará até relatos de “recompensas” oferecidas a clientes insatisfeitos em troca de silêncio nas redes sociais e em sites especializados como o Reclame Aqui.
Os gurus que criticam gurus
Infelizmente o problema não acaba com as autoridades dissimuladas. Existe outro tipo de influenciador questionável que também merece a nossa desconfiança.
A oferta de conteúdo nos dias de hoje está quase sempre atrelada a fortes tendências e polêmicas (trends). Um assunto que ganha grandes proporções na mídia é como uma enorme onda despontando no mar, repleta de “surfistas” (especialistas, gurus, jornalistas e blogueiros) tentando se manter o maior tempo possível sobre ela.
O interessante é que quando essa “onda” põe em xeque a credibilidade de uma pessoa ou empresa, críticos questionáveis passam a surgir por todos os lados tentando se promover rapidamente.
Muitos ataques feitos a personalidades da TV ou da internet partem de pessoas que nem se deram ao trabalho de analisar os fatos.
Criticam livros sem sequer folheá-los. Criticam projetos sem conhecer suas propostas. Criticam profissionais sem ao menos avaliar o trabalho que desenvolvem.
Críticas que se pautam apenas em outras críticas, entre as quais se encontram poucos argumentos relevantes e originais. Me refiro a esses sujeitos como urubus, pois adoram tirar proveito da “carcaça” dos outros para ganhar visibilidade e aparentar credibilidade.
Em meio à multidão de gurus, surgem também os críticos de gurus (ou urubus), aqueles que se autoproclamam senhores da verdade, mas escondem segundas intenções bem parecidas com aquelas que criticam. Gurus e gurus que criticam gurus. Dá pra acreditar?
Dá pra confiar em alguém?
É preciso deixar claro, no entanto, que nem todo guru é um enganador, ainda que as polêmicas estimulem esse pensamento.
Não vou abrir uma votação para eleger quais deles merecem a sua atenção ou não, mas é preciso reconhecer que existem excelentes profissionais dispostos a compartilhar ideias e experiências importantes.
A mitificação do empresariado, das carreiras e da vida pessoal é encarada de maneira positiva por uns e negativa por outros, mas é certo que muitas pessoas estão abrindo seus olhos para novas oportunidades em um mundo que exige mudanças rápidas.
Devemos nos esforçar para separar o joio do trigo, ou seja, identificar e banir os que se aproveitam disso apenas para obter vantagens particulares e dar foco às iniciativas que são, de fato, relevantes.
Por meio de ideias e discursos — que, certamente, não agradam a todos — eles revelam caminhos para muita gente que precisa de orientação e, muitas vezes, não faz ideia de que poderia ter uma vida melhor.
Entre elogios e críticas, muitas pessoas estão descobrindo oportunidades com a ajuda dos gurus da internet e várias delas estão se dando muito bem.
Por fim, mas não menos importante, é bom esclarecer que o consumidor moderno não é uma vítima ingênua de vendedores dissimulados. Pelo contrário.
As pessoas estão cada vez mais atentas e dispostas a expor a sua opinião sobre o que aprovam e desaprovam, exigindo seus direitos como consumidoras e cidadãs.
Esperamos que os gurus da internet — não todos, apenas os golpistas e charlatões — caiam com a repercussão de críticas e denúncias. Mas, de qualquer forma, fica a dica de todo bom precavido: desconfie sempre!