Slow content: por uma internet menos acelerada

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Mulher jovem deitada no sofá com a cabeça apoiada sobre uma das mãos, segurando o celular e vendo algum conteúdo - Slow content

O mundo nos parece cada vez mais acelerado, não é mesmo? Vivemos com a sensação de que o nosso tempo é muito curto para tudo que desejamos descobrir, aprender e fazer. 

Na tentativa de atender todas essas expectativas somos tomados por uma avalanche de metas, prazos e notificações que, muitas vezes, extrapolam as telas dos dispositivos e se tornam ruídos em nossas mentes.

Esse comportamento está por trás da atual ansiedade dos usuários por informações novas e rápidas, uma demanda que tende a ser suprida pelos produtores de conteúdo que se esforçam para produzir cada vez mais em menos tempo.

E com a chegada massiva das ferramentas de Inteligência Artificial, em vez de reduzir a carga sobre a produção, foi a demanda que aumentou. Se antes já era tudo para ontem, com a IA ficou tudo para anteontem ou antes.

Na contramão desse cenário, temos o slow content, uma abordagem que nos desafia a repensar o modo típico de fazer marketing na internet ― muitas vezes focado apenas em métodos e números. Mas será que isso é viável?

O que é slow content?

Por definição, o slow content (ou conteúdo lento, em português) consiste em um processo de produção de conteúdo no qual a qualidade se sobrepõe ao tempo e à quantidade. Dessa forma, o objetivo dos criadores deixa de ser produzir mais para produzir melhor, de acordo com o seu ritmo e o do seu público.

Os defensores desse movimento acreditam que para se criar um bom conteúdo é necessário, antes de tudo, respeitar o tempo do criador. A ideia é sair do “piloto automático”, seguir as regras de produção e SEO com menos rigor e criar com mais liberdade a fim de construir peças com identidade, verdade e propósito.

É claro que nenhuma empresa ou profissional desejaria ter a sua marca atrelada a conteúdos ruins, mas por que manter um padrão de qualidade tornou-se algo tão difícil nos últimos anos? Para entendermos isso, precisamos nos aprofundar um pouco.

Por que a internet anda tão acelerada?

Todo profissional de Marketing Digital sabe que está lidando com consumidores cada dia mais ansiosos e distraídos, um reflexo da enorme quantidade de dados disparados pelas diversas plataformas que hoje fazem parte do nosso cotidiano.

Esse comportamento hiperconectado promove uma verdadeira guerra pela atenção dos usuários na internet, e, nessa disputa, o conteúdo é a principal “munição” dos criadores. Seguindo essa lógica, quanto mais conteúdos publicamos, maiores as chances de sermos vistos e maior o tempo de interação dos usuários com a nossa marca.

De fato, existem algumas análises que demonstram que a maior frequência de postagens pode favorecer os blogs e páginas sociais. Entretanto, quando esse crescimento passa a afetar a qualidade dos materiais, o resultado pode comprometer o desempenho da estratégia e a reputação da marca.

Quais são os princípios desse manifesto?

Com a enorme popularização das plataformas digitais e o crescimento da competitividade na internet, influenciadores e empresas passaram a adotar estratégias mais agressivas para atingir o público. Além de processos de produção acelerados (ainda mais turbinados hoje com a IA), a própria ansiedade da audiência tem desmotivado a criação de peças aprofundadas.

Sendo assim, o slow content faz um alerta para dois problemas graves da atualidade: os usuários, que estão viciados em informações curtas e rápidas, e os produtores de conteúdo, que “alimentam” esse vício oferecendo materiais cada vez mais numerosos, genéricos e superficiais.

Embora muitas melhorias tenham sido realizadas nos algoritmos das principais plataformas para banir sites e informações falsas ou ruins, há uma percepção de que enquanto a quantidade de conteúdos cresce de maneira desenfreada, a qualidade deixa cada vez mais a desejar ― e, para piorar, a sociedade parece estar se aproximando de uma saturação generalizada.

A febre dos apps (lembra quando seu celular era entulhado de ferramentas para qualquer coisa?) perdeu muita força nos últimos anos. E o que mais chama a atenção: o tempo de permanência nas redes sociais e o número de publicações pessoais estão despencando.

Muito antes disso, porém, já haviam pessoas se preocupando em desacelerar. O slow content já estava em pauta há muito tempo atrás, tendo, de um lado, pessoas se esforçando para evitar a atual frenesi de informações e restringindo seu consumo a materiais com maior profundidade, e, do outro, produtores desacelerando seus processos de criação para trazer conteúdos diferenciados e de alta qualidade.

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Por que agregar esse conceito às estratégia de Marketing de Conteúdo?

A aplicação do slow content pode variar muito de um projeto para outro. Influenciadores que criam seus próprios conteúdos podem aderir ao movimento para ter uma rotina mais satisfatória, além de oferecer materiais melhores ao público. 

Já grandes portais ou blogs que se posicionam como autoridades em um segmento inevitavelmente precisam de velocidade.

Dessa forma, podemos dizer que o “conteúdo rápido” ― mais rígido, burocrático e com prazos muito limitados ― chega primeiro e, em muitas situações, é necessário. 

Já os “conteúdos lentos” ― criados de forma fluida e com maior profundidade ― merecem destaque, afinal, são eles que:

  • atendem com maior precisão as expectativas dos usuários;
  • definem a identidade dos seus meios de comunicação;
  • fortalecem a autoridade da marca;
  • criam maior conexão com a audiência.

Sendo assim, o ideal é produzir com equilíbrio, mantendo um padrão de qualidade, inclusive entre os conteúdos rápidos (onde podemos incluir os gerados por IA). Ou seja, quando o crescimento da sua produção começa a afetar negativamente a qualidade do seu conteúdo, é hora de desacelerar.

Como fazer slow content?

Para fazer slow content, você pode começar fazendo pesquisas para compreender o ritmo de consumo de informações do seu público. Dessa forma, caso essa necessidade seja constatada, é possível reduzir o volume de posts, emails e publicações antes que a sua audiência se sinta saturada. É claro que o algoritmo de muitas plataformas exige produções numerosas, e será necessária fazer testes para descobrir um equilíbrio perfeito.

Em relação à criação de conteúdos lentos, porém, é preciso deixar claro que não há nenhum método ou fórmula pronta para construí-los. Se você chegou até aqui, sabe que isso é justamente o oposto do que o movimento prega.

Como discutimos, a mentalidade slow está mais atrelada ao processo de produção de conteúdo do que ao conteúdo em si. É preciso respeitar o processo criativo de cada produtor e oferecer a liberdade necessária para que ele dê o seu melhor em cada trabalho.

Entretanto, ainda que o objetivo seja desenvolver materiais diferenciados e únicos, podemos destacar algumas características presentes nos “conteúdos slow”. Confira as principais delas a seguir.

1. Conteúdos lentos fazem parte de um contexto

O Marketing Digital tem se preocupado muito em prender a atenção dos usuários pontualmente. Trocamos incessantemente títulos, tópicos, layouts, fontes, cores e botões, tudo isso na tentativa de manter o olhar do público nas páginas o maior tempo possível. 

Mas será isso suficiente para construir um relacionamento duradouro com a nossa audiência?

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No slow content, os posts e páginas não podem ser um fim em si mesmos, mas uma parte de um grande contexto: a história que você ou a sua empresa contam. 

Esse princípio diz respeito à identidade do seu conteúdo, as essências que o tornam distinguível e que permitem que as suas ideias se fixem na mente das pessoas.

2. Conteúdos lentos são bem pesquisados

Um vício perigoso que muitas vezes domina os criadores de conteúdo é se prender ao benchmarking. Não há nenhum problema em obter ideias e inspirações nos conteúdos dos seus parceiros e concorrentes, mas você não pode parar por aí:

  • vá além dos blogs e canais que costuma utilizar como referência;
  • explore projetos de outros países;
  • tente usar buscadores menos populares;
  • se envolva em temas e assuntos que estão fora da sua zona de conforto;
  • descubra visões e opiniões diferentes.

Além disso, sempre que possível, fuja dos sites e redes sociais. Busque informações em artigos acadêmicos, livros, eventos e experiências reais. 

Enriqueça a sua vida e a sua mente para que assim você seja capaz de enriquecer o seu conteúdo também.

3. Conteúdos lentos são elaborados cuidadosamente

Experimente, teste, troque, refaça, enfim, trabalhe a informação de forma atenciosa procurando construir o melhor diálogo possível entre você e a sua persona. 

Uma atitude cuidadosa parte do próprio valor e respeito que o produtor confere ao conteúdo que produz e seu impacto na vida das pessoas que o consumirão.

Esse cuidado também se expressa na avaliação criteriosa das referências utilizadas, na linguagem adotada, nas palavras escolhidas e até na argumentação. É preciso ter conhecimento sobre o comportamento, os valores e as intenções do público para ser capaz de trazer as soluções que ele realmente necessita.

4. Conteúdos lentos oferecem valor

Por fim, temos a característica mais importante dos conteúdos slow. Fala-se muito em valor atualmente, mas por ser um conceito com diversas definições diferentes, tornou-se algo pouco compreendido e, muitas vezes, banalizado.

Um conteúdo de valor é aquele que traz algo que realmente faz a diferença para a persona no momento em que ela se encontra. Dessa forma, esse princípio não está apenas na ideia central, mas nas particularidades do conteúdo, aquilo que o torna especial, diferente dos demais.

Questione-se: quais os atributos que tornam (ou poderiam tornar) o seu conteúdo único? O que você ou sua empresa tem ― em termos de comunicação, relacionamento, linguagem ou conhecimento ― que nenhum outro blog ou canal é capaz de oferecer?

Talvez você considere tudo isso um tanto trabalhoso, mas é algo que pode mudar completamente a sua rotina e a da sua audiência para melhor, muito melhor!

O slow content traz uma proposta muito interessante para reduzir o rigor dos processos de produção de conteúdo e resgatar as essências humanas e criativas desse trabalho.

Isso não significa ignorar tendências de mercado, estratégias de divulgação ou fatores de SEO, mas simplesmente harmonizá-los ao ritmo do público e ao processo criativo de cada produtor.

O slow content, portanto, é um lembrete aos produtores de conteúdo, empresas e profissionais de Marketing Digital em geral de que a verdade e a qualidade devem ser prioridades.

Este post foi publicado originalmente no blog da Rock Content. O conteúdo foi adaptado e atualizado para este blog.

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